terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Cristianismo em Saint Seya

Uma comparação entre a Atena de Saint Seya com o Jesus Cristo da Igreja de Pedro pode parecer incoerente em um primeiro momento, no entanto, traduzindo certas deixas apresentadas tanto em Lost Canvas quanto nos “Cavaleiros do Zodíaco” o original, algumas ressalvas são necessárias.
A Igreja Católica tem seus “santos” homens divididos entre padres, bispos e arcebispos. Dentre os arcebispos, um papa é escolhido quando se faz necessário (após a morte de um predecessor). Os santos de Atena se dividem entre bronze, prata e ouro – talvez em alusão as raças Hesiódicas – e, dentre os cavaleiros de ouro, um Grande Mestre é escolhido. Em inglês, o título de “Grande Mestre” é escrito como “Papa”. Assim como em muitas línguas (como inglês ou espanhol) o título "Santo" não, eu não sei como é em japonês permaneceu "Santo" e não "cavaleiro".
Um dos principais símbolos da Igreja Católica é o vinho, alusão ao sangue de Cristo. Nos cavaleiros do zodíaco, as armaduras dos cavaleiros que tocam o sangue de Atena, atingem níveis de poder muito altos, mas para essa comunhão o cosmos do próprio cavaleiro tem que se elevar (assim como o cristão há de estar purificado, após cantos de glória e perdão).
Enquanto o primeiro líder da Igreja Católica foi Pedro, o nome do Grande Mestre no manga original é Shion. O nome Shion é a versão em hebraico de João, o autor do Evangelho mais espiritualizado, propagador de um mundo cristão menos materialista e mais idealista. Curiosamente o personagem vem de um região no Oriente Médio, ou muito próxima. Enquanto os seguidores de Pedro espalham o sopro do Espírito Santo, os seguidores de Shion usam sua força espiritual e física (seus Cosmos) para trazer Amor, Esperança e Felicidade.
Mas porque Atena? Porque não outro deus grego qualquer? Primeiro, e mais óbvio, pelo caráter de Guerra justa que lhe foi atribuído uma vez interpretada pelo mundo cristão.
No entanto, uma coisa que liga Jesus à Atena é que os dois não vieram de uma relação sexual. Jesus nasce do encontro do poder de Deus com Maria. O poder de Deus é o espírito santo. Atena, por sua vez, nasce da cabeça de Zeus, posteriormente ao fato de Zeus ter engolido ninguém menos que Mnemosine, a memória, a salvação para os gregos antigos. A Mnemosine é, para os gregos, poder e sabedoria, a Salvação diante do ciclo reencarnatório.
E um fator totalmente voltado à questão grega é que resta a dúvida: porque Seya, cavaleiro de Pégaso, Hyoga (de cisne), Shiryu (dragão), Shun (Andrômeda) e Ikki (Fênix) não respeitam a hierarquia de poder estabelecida entre as raças metálicas? Ora, isto se deve ao fato de Hesíodo ter descrito uma raça que foge desta hierarquia: a raça dos heróis, a raça dos Semideuses que, por coincidência (provavelmente não) Seya e seus companheiros o são: todos são filhos de Zeus, eles não pertencem a categoria de Bronze, mas sim a dos Heróis. No mangá, esses “órfãos” tem pai: o Sr. Kido, a encarnação de Zeus.

Além das sombras

Uma prática bem interessante, depois que a gente começa a viajar naquele papo de construções e tal, perceber certas ironias entre as construções anatômicas e filosóficas, ou sociais e econômicas, religiosas e culturais, e aí vai... O assunto deste texto é a relação ver e a ausência da visão.
Por exemplo, na religião antiga nórdica vikings, Odin, martelo, etc nenhum poeta seria realmente poeta se não fosse cego.
A poesia era ligada fortemente com a magia. Até o todo poderoso Odin trocou um olho pelo direito de usar magia, mesmo que sendo um poeta/mago incompleto, uma vez que ainda poderia ver.
Isso nos remete a outros poetas/magos/médiuns antigos: os aedos, os poetas cegos do mundo grego. Mais uma vez, cá está: poeta CEGO.
Por que isso? Até o cavaleiro de dragão, Shiryu, vira e mexe tem que ficar cego no seu manga, Saint Seya, para enxergar além das ilusões. Uma vez para sair de um labirinto ilusório, outra para não ser petrificado pela visão de Medusa, outra ainda para ver os chakras de seu inimigo, o cavaleiro de Poseidon: Krishina.
No mesmo manga, o homem mais próximo dos deuses, o cavaleiro da constelação de Virgem, se priva da visão, para aumentar seus outros sentidos, mais espirituais.
Aqueles, em Matrix, que sabem que aquilo não é o real, usam óculos escuros. Neo, cego, acha o caminho até o deus da Matrix.
Todas essas relações trazem uma aproximação do cego, ou melhor, daquele que não possui a capacidade física de ver as coisas físicas, com as coisas, imagens, sentimentos, conhecimentos, poderes: espirituais. Como se os olhos fossem um canal para a ilusão (Maya).
E o mais próximo de nós: até a justiça – implacável contra as mentiras e ilusões – é cega. Ou melhor, vendada...
Platão e sua alegoria da caverna dizem que todos os seres humanos vivem em uma caverna e tudo o que vêem são sombras do algo real, na parede desta caverna. A realidade está fora da caverna. Aí está uma bonita ironia cultural: o cego nunca se iludiria com sombras na parede...

Civil War

A guerra civil americana, ou guerra da secessão (1861-1865), foi um confronto entre o Norte e o Sul, principalmente sobre o direito ou não de possuir um escravo. A guerra civil da editora Marvel foi uma guerra entre heróis dispostos a retirar a máscara e heróis não-dispostos.
O ato que separou os exércitos de Capitão América e Homem de Ferro determinava que todos os meta-humanos deveriam revelar suas identidades secretas e se submeter ao sistema de proteção norte-americano.
A Guerra Civil americana tem em comum o fato de que a questão é sobre seres humanos, e sobre o domínio que a sociedade exercem, ou não, sobre eles.
Os heróis não-dispostos a revelar suas identidades não queriam entrar em um sistema, eles não queriam trabalhar para o governo, isso iria expor as famílias desses heróis. O que, por exemplo, seria de Mary Jane se soubessem que seu namorado é o homem aranha?
Já o Sul não queria entrar em um sistema não-escravocrata. Queriam permanecer no modo de vida em que estavam. Tinham sua renda, seus negócios e assim estava bom para eles. Eles não queriam abrir mão de seus escravos.
Com o fim da escravidão, o Norte industrial poderia controlar a economia. O país seria melhor sob seu domínio econômico.
Com o fim do anonimato dos meta-humanos, o governo poderia controla-los. O país seria melhor sob seu domínio das forças super-humanas.
O debate é o mesmo: aderir ao sistema ou renuncia-lo.
Ao renunciar o sistema, os heróis se tornariam renegados. Levados ao nível de vilões, que deveriam ser combatidos e derrotados. E foram.
O capitão América morreu. O sistema – Stark – triunfou.
Stark cai bem como alusão a um Norte de alta tecnologia. E o Capitão América em seu papel sulista é a própria ironia, afinal, se os sulistas lutavam para manter seus escravos cativos, as correntes dos heróis aliados do Capitão América eram suas máscaras, que garantiam sua liberdade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Milenarismo Arturiano

Se o rei Arthur existiu ou não, ninguém tem certeza. Um guerreiro bretão ou um rei cristão, um debate de uma importância relativamente menor do que os usos políticos que a de se fazer com a imagem do rei lendário.
A "morte" de Arthur teria sido sua viagem a Avalon, após grave ferimento. O povo inglês teria acreditado por muito tempo que Arthur retornaria e expulsaria da Bretanha seus invasores. Como nos EUA, esses "invasores" mudaram ao longo dos séculos: de romanos, a saxões, ou cristãos, logo francos, talvez mesmo vikings, etc...
Essa fé no retorno de um Salvador, que voltaria e governaria por um período de 500 ou 1000 anos seguido plo fim do mundo, era muito comum no pensamento medieval. A França tinha o seu, que competia com o alemão, Portugal teve o rei Sebastião, e por aí vai...
Arthur tem seu arquétipo ligado a justiça. Todas as releituras da Excalibur perpassam um questão de justiça. Isso vai de Cavaleiros do Zodíaco a Harry Potter.
Quando a imagem de Arthur começou a ganhar da do próprio rei inglês Henrique II, "acharam" o túmulo do rei Arthur, junto a sua amada piriguete Guinevere. O sonho do retorno do rei que não morreu estaria acabado. O sonho do retorno do governante justo morreu, e todos passaram a pensar apenas no rei atual. Bem, o azar é todo dele...

Tucídides, o historiador general

A guerra do Peloponeso (431 a 404 a. C.) foi um confronto pós-guerras médicas (gregos x persas) que teria ocorrido entre as duas maiores potências gregas: Atenas e Esparta.
Não se iluda com a visão intelectual-filosófica que Atenas transmite no imaginário atual. Eles tinham exército, ouro e aliados. No entanto, quem leva a melhor na guerra entre os gregos são os espartanos, esse mesmo povo que teria lutado a Batalha de Termópilas décadas e décadas antes. sim, sim a do filme
Termópilas foi e é o símbolo de heroísmo, coragem e disciplina da civilização ocidental: 300 espartanos contra 100 ou 200 mil persas, infligindo perdas terríveis no exército persa. Com o mito Termópilas, os persas são reduzidos a covardes e fracos, e os espartanos são considerados corajosos saiajins.
Mas Tucídides foi o cara que escreveu a Guerra do Peloponeso, que ocorreu muito tempo depois de Termópilas. Esse texto é uma hipótese do que teria levado ele a escrever a história de uma guerra que perdeu.
Com o efeito mito que a batalha de Termópilas deixa no imaginário em mente, podemos deduzir o que levou um general ateniense, que lutou e perdeu a guerra, a registra-la. Tucídides é seco em seu texto. Seu texto possui um apego ao factual que legitima sua versão da guerra do Peloponeso perante qualquer outra versão.
Ele não conta a Guerra do Peloponeso, ele a limita. "A guerra foi só isto". Ele, por exemplo, inicia seu texto descrevendo os dois exércitos. Impossibilita os poetas a cantarem que dez espartanos mataram 1.000 atenienses.
Tucídides limita a vitória espartana ao plano físico, e ganha na batalha da memória. Eis o motivo que aponto para Tucídides ter contado a guerra que perdeu: ele a limitou como uma vitória comum como qualquer outra, e não um evento épico e humilhante.

O fantasma Haiti

O Haiti foi o primeiro de nós, americanos, a conseguir sua independência, a Revolução durou de 1791 a 1804. O fluxo de africanos da ilha era gigantesco, uma vez que a taxa de mortalidade era enorme e a Revolução Haitiana é ligada a isto como nenhuma outra.
O diferencial do Haiti é que a revolução foi feita por escravos. O Haiti se emancipou junto com seus habitantes. A chacina dos brancos levou então ao que nós vamos chamar de Fantasma do Haiti. Um medo que perpassava as colônias (como Cuba) de que os escravos se revoltassem e tomassem o controle do país.
O Haiti ficou lutando a favor da abolição em muitos países americanos, apesar das disputas internas que sucederam a emancipação.
Depois de se tornar independente, o Haiti foi economicamente boicotado por Estados Unidos, França, Espanha e mais uma galera. O maior produtor de açúcar no mundo faliu e só teve sua independência reconhecida décadas depois.
A Revolução Haitiana é vital para que possamos entender o movimento emancipatório americano como um todo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sound of Silence

Walter Benjamin morreu em 1940. Ele presenciou as Grandes Guerras, cometeu suicídio por causa da segunda. O pensador judeu registrou, brilhantemente, o efeito que a mudança do lidar com a morte causaria na sociedade ocidental.
Para Benjamin as pessoas não sabem mais ter experiências coletivas (do alemão Erfahrung). Apenas o individual é possível, apenas a vivência individual (do alemão Erlebnis). Isso coincide com a decadência da figura do ancião. Os conselhos do velho agora não são mais interiorizados. A perspectiva de uma morte próxima não traz legitimidade ao que está sendo passado.
Para entendermos, um ótimo exemplo é Buenos Aires: um povo altamente politizado. Que se une para fazer passeata, bater panela. Um povo que criou todo um sistema de política que permite essa politização e participação comunitária. No entanto, as pessoas não se olham na cara. Ninguém te diz bom dia, ninguém te ajuda quando perdes a chave do apartamento.
Um lugar com tanta gente que parece tão solitário. Pessoas conversando sem falar. Ouvindo sem escutar. Uma falta de social que somada a falta de missão e noção dentro de um mundo que construímos para nós mesmos pode ser fatal. E quando é nós a batizamos de pós-moderna.
O que acompanha a criação do jornal, que servia para que o Bonjour não fosse desperdiçado com todo mundo no metro parisiense. Acompanha ainda, em 2010, um vendedor dizer "Bom dia" e você o responde com a quantidade de produto que quer.
A música de Simon & Garfunkel, Sons do/e Silêncio expressa essa falta de Erfahrung. Tudo isso por uma mudança de tato com a Morte.

Os EUA ao infinito e além

Os filmes animados Toy Story trazem símbolos muito característicos da nação americana para pensarmos os imaginários construídos com o Destino Manifesto e posteriormente.
E nada mais simbólico no mundo americano do que as estrelas.
A Nação independente do Texas, chamada de Estrela Solitária talvez seja o auge para pensarmos o que a estrela significa.
O simbolismo da estrela representa o que é belo, bonito, perfeito e de certa forma inalcançável. Um exemplo cotidiano: as estrelas de Hollywood. (sentiu a ironia?)
Segundo um professor de história mundial, americano, de South Mecklenburg High School, Porto Rico ainda não foi incorporado aos Estados Unidos da América porque isso mobilizaria uma industria muito grande de novas bandeiras, com 51 estrelas cada.
Cada estrela na bandeira americana representa um estado como na bandeira do Brasil. No entanto, mesmo com um processo americanista, as diferenças entre a dinâmica política do Brasil e dos EUA é diferente ao ponto de não conseguir se imitar perfeitamente nem no simbolismo.
A estrela solitária da bandeira do Brasil representa a capital, já ensinava a professora do pré-escolar, no entanto, a bandeira americana não permite uma hierarquia entre os estados, o que, ao meu ver, evidencia uma política de respeito e colocação no mesmo patamar todos os estados, talvez como um trauma da guerra de Secessão, uma vez que a bandeira anterior tinha uma estrela solitária no meio.
A conquista para o oeste, o primeiro passo rumo ao infinito, traz o estereótipo do Cowboy. O Sheriff Woody (um cowboy de brinquedo) traz no peito o símbolo que lhe confere a representação da ordem do Estado, da Lei: uma estrela.
Estrela que imita as estrelas do céu que, com o mesmo pioneirismo exercido no oeste, os EUA tentam se aproximar “conseguindo” em 1969 chegar a Lua.
O pioneirismo rumo as estrelas também aparece no desenho, com o personagem Buzz Lightear, um brinquedo paranóico que acredita piamente ser de verdade e que pode ir ao espaço.
Com a chegada desse personagem, o novo espírito de conquista (Buzz, o astronauta) confronta-se com o antigo (Woody, o cowboy, o líder da comunidade que formavam os brinquedos de Andy), no entanto, o espírito aventureiro dos dois faz com que se tornem melhores amigos.
Em síntese, o símbolo da estrela aparece com lei, objetivo e um toque missão: os EUA, disciplinado e disciplinador, unido rumo ao infinito, e além.

O primeiro positivista

Bom, pra explicar bem explicadinho (como o Foucault faz, segundo minha mãe), acho que eu devia situar o que é o que chamamos - hoje - de Positivismo.
A história como "nós conhecemos" começou no século XIX. Na Alemanhã, Ranke começa a partir da história a formar uma identidade alemã. Para ele, nós só poderíamos entender os sentidos e o peso de uma história ao analisarmos o todo factual.
O passado estaria vivo nos documentos escritos que sobreviveram ao tempo. A "interpretação" do historiador deveria ser pragmática e concreta. Apenas o fato descrito aconteceu. Hipóteses e, principalmente, outras fontes senão os documentos oficiais não seriam permitidos. Essa "escola metódica" já caiu por terra a um bom tempo. Sua importância está no fato de ter dado origem a História Científica.

Já o Foucault (leia-se "Fu-cô") vai atingir seu auge no século XX. O que ele traz? Para Foucault tudo é uma construção. Construção no sentido de as únicas coisas inerentes aos seres humanos são suas necessidades fisiológicas (todas as três). Todo o resto pode e é apreendido dentro de uma lógica construída. Juntando história e psicanálise, Foucault vai analisar desde as maneiras de se tratar um indivíduo criminoso ao longo dos séculos, sexualidade e loucura.
Dentro da análise de textos, Foucault vai extrair as diferenças que existem entre essas lógicas de pensar de temporalidades diferentes. Foucault analisa a micro-física do poder. Quem tem poder em determinada época? O que é esse poder? Qual o discurso que permite àquele indivíduo ou grupo de indivíduos terem esse poder?
Foucault analisa discursos dentro de sua lógica. O primeiro positivista e o primeiro historiador não-anacrônico de verdade. O primeiro positivista, segundo Paul Veyne, porque ele vai analisar um discurso dentro do "discurso oficial" de determinada sociedade em determinada temporalidade. Enquanto todo mundo se esguelava berrando viva o socialismo, Foucault mostra que a história não se resume a uma luta entre classes, mas vai além disso. Nosso mundo é muito complexo para ser resumido entre mocinhos pobres versus Dracos Malfoy.

domingo, 12 de setembro de 2010

Força de Gaia

Se tem um filme que despertou em mim um gosto para ficção científica foi Avatar. Não pela cor azul que é o tema do último post relacionado, mas pela filosofia da mãe-Terra com a deusa Ewa. (Preciso dizer que a minha divindade grega preferida é Gaia?).
Os Na’vi representam uma filosofia presente em muitas culturas. Aliás, praticamente em todas, exceto a ocidental.
Os maias, para todos os dias de um calendário religioso de 260 dias eles tem uma porrada de calendários, tinham uma combinação energética diferente. Continha essa energia tudo que fosse animal, vegetal ou mesmo mineral nascido neste dia. Esse calendário energético é chamado de tonalpohualli. (Em nahuatl).
Em algumas culturas africanas lá está a força vital. A ligação dos orixás com tais forças são óbvias e mais óbvio ainda é cada ser humano ser “filho” de um orixá. Cada ser humano vibra na freqüência do seu orixá. Cada ser humano vibra de acordo com uma força da natureza.
E olhe que coincidência: Ewa é o nome de uma orixá. Na Umbanda Esotérica e no Camdomblé. Ela foi dividida em 9 partes, e uma delas se tornou Iansã.

A força vital é energia. É o ki. O shi.
Mesmo nas artes marciais eu preciso dizer orientais? essa energia está presente! Kiai, o “berro” que acompanha um golpe é traduzido como: ki= energia, ai= explosão.
Você pode pensar "Tá bom Nícolas, senta lá", no entanto, parte da filosofia marcial é a observação e o respeito a natureza. O zen budista, da paz com o cosmos.
O kiai é uma explosão de energia pessoal. A mesma energia dos filhos de orixás e o mesmo tonalpohualli dos maias.
A força de Ewa do filme.
A concepção religiosa sobre a mãe Terra é uma das mais antigas. Você pode encontrar tanto na Suméria quanto em achados pré-históricos.
A ligação entre a Terra e o ser humano, evidentemente ligada a necessidade humana de conservar seu planeta, é expressada nos discursos ocidentais ecológicos anti aquecimento global.
Meio atrasadinho, mas quem sabe o ocidente não aprenda a importância da Mãe Terra?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Oi, reparou no vaso? Bjos

Então, se você é um bom observador, com certeza viu que muitas postagens sobre História Antiga tem vasos como ilustrações.
O vaso ele é o maior símbolo da cultura grega antiga. Além disso, base comercial grega eram os vasos.
Não haviam talheres, caixas, ou copos. Haviam vasos. De bronze, argila, cerâmica, etc. Vasos, vasos, vasos.
E são nesses vasos que podemos estudar a arte grega, sua mitologia não hesiódica e, tão importante quanto, as influências culturais gregas espalhadas por todo o mediterrâneo.
Tem uma doutora da UNICAMP que recém fez a tese em que mostrava como a resistência à cultura grega se deu na Magna Grécia (nossa amada Sícilia) através... Dos vasos. ah como eu queria me lembrar o nome dela!
Em relação ao termo "mitologia não hesiódica" que eu nunca tinha visto em lugar qualquer e me perdoem pela criação grotesca, me refiro ao que Hesíodo não conta em sua teogonia. Se ele contou uma história, com certeza realizou, arbitrariamente ou não, uma seleção de divindades apresentáveis e versões para suas histórias foram selecionadas. Portanto, prender seus conhecimentos mitológicos gregos na teogonia, é submeter-se a uma versão formada por uma arbitrariedade de origem desconhecida.
Fora que, voltando aos vasos meninos e meninas, vocês não vão saber todas as histórinhas sobre Zeus na faculdade, mas com certeza vão escutar a palavra vaso um zilhão de vezes.
Os famosos comportamentos sexuais gregos podem ser admirados em alguns vasos que se encontram escondidos em museus europeus. cara, talvez eu tenha lido isso no "Amor, desejo e poder na Antiguidade", mas não tenho certeza.

Administração imperial e o poder do nobres na Idade Média

Ao contrário do Estado centralizado da Roma pagã, Carlos Magno dividia as terras e dava aos nobres em formas de ducados e marcas (então, a duques e marqueses), terras de fronteira para que garantissem a defesa das fronteiras imperiais.
A distinção de marquês, conde e duque vem daí: a extensão e o quão perto da fronteira a terra é.
Carlos Magno não possuía uma capital oficializada, embora devemos lembrar que Aix-la-Chapelle fora palco de importantes eventos para tal império. Essa descentralização levou o imperador a uma curiosa estratégia: os missi dominici.
Esses missi dominici trabalhavam sempre em duplas: um leigo e um clérigo, que fiscalizavam os nobres senhores feudais, vassalos do imperador. Eles trabalhavam rotativamente, e nem sempre eram bem-vindos.
A administração de Magno levou ao engrandecimento dos nobres, que só mantinham-se leais ao rei por voto de vassalagem. No entanto, em uma época que os mais fracos viam-se obrigados a se refugiarem-se no castelos dos mais fortes, isso conferiu grande poder a esses nobres e clérigos senhores feudais.
A administração Carolíngia, levou a uma diferença social enorme. Os senhores feudais, devida a quantidade de servos que tinham, possuíam um exército, recursos econômicos e, por isso, poder político.
Tudo isso para explicar o fim da dinastia carolíngia, após aproximadamente um século da morte de Carlos. Os nobres conseguiram competir com os reis e qualquer monarquia era cortada e recortada por golpes de nobres poderosos.
O fato dos missi dominici serem um leigo e um clérigo também evidencia a firme relação do poder imperial carolíngio e a Igreja.

domingo, 5 de setembro de 2010

Hýbris

Como o objetivo desse blog é traduzir alguns textos historiográficos para um português acessível, porque não traduzir um grego básico para uma melhor compreensão da Antiguidade? Seguindo o fluxo, da postagem sobre o tempo grego, e ainda se baseando no livro: "Mito e Pensamento entre os Gregos" do nosso comunista assumido preferido Vernant que nunca, pelo que eu saiba, foi terrorista as divisões das raças ouro, prata, bronze e heróis se dá pelos conceitos de Hýbris e Díke. Vamos explorar o conceito de Hýbris um pouquinho.
Hýbris é maléfica, especialmente para os pobres, segundo Hesíodo. A Hýbris é a desmedida. Hýbris é ultrapassar os limites segundo um dicionário de Filosofia que eu encontrei perdido na biblioteca.
O conceito filosófico de Hýbris pode ser visto com Ícaro, que tentou se igualar a um deus e morreu por isso. Hýbris então, é a ambição humana de se igualar aos deuses.
É muito legal como a gente observa a influência do pensamento de punição divina àqueles que ultrapassam limites, inclusive em relação a filosofia católica.
A raça de prata foi destruída por sua Hýbris desmedida, assim como a raça de bronze também se destaca à dos heróis por esse valor.

sábado, 28 de agosto de 2010

Historiografia africana

A historiografia africana se inicia com uma negação: A África não tem História. Tal afirmação não era tão absurda para os positivistas.
A escola metódica (os positivistas) que iniciaram a História como ela é hoje em dia, se baseavam em documentos oficiais escritos. No entanto, a maioria das culturas africanas eram ágrafas (e talvez eu possa afirmar que ainda o são).
Sem escrita, não há história. E a supervalorização européia imperava no campo intelectual tanto quanto no econômico. Denominamos essa historiografia de
Pessimista.
No entanto, alguns africanos foram para a Europa e “aprenderam a fazer história”. Começa então a
Superioridade Africana.
Com o discurso de todos iguais e igualdade entre as nações, a UNESCO patrocina a coleção “História Geral da África” na década de 60. No entanto, os africanos acabam por fazer com a África, o que os europeus faziam e fazem com a Europa.
Esse tipo de política aparece também quando aplicam modelos ocidentais de desenvolvimento para as nações subdesenvolvidas da África. Através de discursos e limitações de crédito, o ocidente controla a gestão das nações africanas.
Eis que surge uma outra corrente, consciente de que graças a um processo histórico extremamente diferente, a África não possui valores iguais aos dos europeus. E são os africanos os responsáveis pela gestão de suas nações e por escreveram a história de seus povos do seu modo.
Esses são os africanistas. No maior esquema “América para os americanos”, eis que tomam a África para os africanos.


Figuras: Du Bois, exponente pensador negro, ainda racialista.
O livro "Na Casa de Meu Pai", do filósofo Appiah que discute o racialismo de Du Bois. E um leão só pra te lembrar da idéia de África selvagem implantada na sua cabeça.

"Invasão" Magiar

Le Goff disserta sobre um certo padrão nas invasões na Europa da Idade Média: após um período de saque, há uma instalação futuramente comercial e política.
Os húngaros não fogem da regra. Similares aos hunos, os húngaros eram um exército que vivia em cima de cavalos. Povo guerreiro, os magiares se instalam no século VII no império dos Khazares – turcos comerciantes convertidos ao judaísmo.
Foram, no século IX, empurrados para oeste até as terras que, antes do ataque carolíngio, pertenciam a um povo denominado Avaro.
Os ataques (saques) húngaros ao sacro-império romano germânico iniciam-se em 899.
Um fato bacana também é a semelhança imaginada pelos mais ocidentalizados dos húngaros com os turcos na época das primeiras invasões. A primeira imagem representa o Cerco de Eger (1552), onde 80.000 soldados turcos atacaram 2.000 húngaros. Vitória húngara. É, nem tão iguais assim...

Os húngaros, voltando ao tempo da chegada, não atacam um império unificado. O império já pode,historicamente, ser dividido entre Germânia e França. A figura de unificação imperial era Carlos, o Gordo, que morre em 888. Em 926 eles atacam Verdun e até Roma eles vão. Os saques húngaros são detidos por Otão da Germânia em 955, na Batalha de Lechfeld.
Após esse bloqueio nos saques húngaros eles se sedentarizam e, com a conversão do recém-nomeado Príncipe Estevão, a Hungria nasce como reino no ano 1000. Com direito a figura dele ali do lado e tudo.
Vale destacar o fato de Estevão I ter virado o santo patrono dos reis.
Batalha de Lechfeld

O Sacro Império Medievo

Trevas. Fragilidade. Inquisição. Medo.
Há certos cenários que povoam nosso imaginário acerca do mundo medieval.
A questão feudal, como se de repente, o império romano ruiu e do dia para a noite o cidadão era servo e seu senhor agora era um cavaleiro e não mais um imperador.
No entanto, o único jeito da Idade Média ser a Idade das Trevas é não estudando-a.
Para a gente estudar melhor, Le Goff escreve um texto de simples compreensão chamado a Civilização do Ocidente Medieval, em forma de prosa sem um rigor que se ele não fosse O LE GOFF sem dúvida seria criticado bastante.
Existe uma idéia pouco ensinada nas escolas da re-significação do império. Durante a idade média, ao menos até Otão III, houve uma busca de ressurgimento do império romano.
Após a queda do império romano houve sim uma descentralização. Tal descentralização foi substituída pelo reinado dos francos com a dinastia carolíngia (751-987).
Carlos Magno (747-814), descendente hierárquico do convertido ao catolicismo em 496, Clóvis, recebeu o título de imperador dos romanos pelo papa em 800.
Carlos expande esse território para a Germânia (que seria a Francia oriental), já possuía a maior parte de França atual, um pouco da península ibérica e conquistou a Itália.
Carlos Magno foi proclamado imperador por três motivos:
1 - O papa necessitava de um protetor.
2 - O papa necessitava de alguém que legitimasse os Estados Pontifícios (isto é, do pontífice, do papa).
3 - O papa queria estender seu poder até a igreja oriental e acabar com a questão iconoplasta que depois que eu pesquisa mais, vou escrever aqui alguma coisa sobre.
Isso mostra que o papa queria e incentivava Magno a atacar o império romano do oriente. Carlos assim o fez, no entanto, apenas para que seu título de imperador fosse reconhecido e que o jeito que ele denominava o imperador bizantino permanecesse (isto é basileus, o mesmo modo que aparece na Odisséia para pequenos reis, lembrando nosso post sobre o anacronismo homérico).
O título de imperador lhe foi reconhecido por Bizâncio em 1812.

Pessoas azuis

Pois é. Um fato bacana de se pensar sobre o filme avatar é a cor dos habitantes de Pandora. São seres azuis fisicamente superiores.
Mas vamos por partes. Eu escrevo uma cor e você pensa em alguém, ok? Branco. Negro. Vermelho. Amarelo. Azul.
Epa! Azul?
eu podia dizer rosa, mas aí eu ia sacanear a minha namorada. Já começa por aí. A cor escolhida não pode, e não vai, representar nenhuma “raça” que temos na Terra.
Outra questão bacana é que os humanóides azuis que existem em representações na Terra são os deuses hindus. Eles são definitivamente superiores aos humanos.
Outra galera, segundo algumas vertentes esotéricas/espíritas
MUUUUUITO liberais, é o pessoal de Órion, que seriam as entidades mais evoluídas com quem o ser humano já fez contato (a exceção de Jesus, talvez).
Os meso-americanos também tem sua parte azul. Eles acreditavam que houvesse 5 povos/raças: negro, vermelho, verde, amarela e azul. Cada uma relacionada a um ponto cardeal.
Ou seja, todos os seres azuis tem uma percepção mais madura e experiente da vivência com a natureza, seja ela micro, planetária, ou macro, universal.
Isso pode ser analisado no filme, além das conexões óbvias com o rabo do meio do cabelo deles, é a interpretação de amor como compreensão e conexão total. O mesmo da nossa cultura, no entanto, nos perdemos no eufemismo da palavra amor. Eles não falam “Eu amo você”, eles falam: “Eu vejo você”.
Os Na’vi possuem uma percepção maior do que nós em qualquer aspecto. Inclusive no romântico. Enquanto utilizamos uma expressão abstrata relacionada a doação, entrega e posse sobre um conceito construído, os Na'vi simplesmente dizem: "Eu vejo você", eu te entendo, te leio e te compreendo até sua essência.
Bem mais romântico, néh?
See you soon.
entendeu o trocadilho?